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Henrique Braz Rossi
São Bernardo do Campo - SP - Brasil

E-mail: henrique@octaki.com.br

Um dia no supermercado

01-04-2009 18:42

Os corredores daquele supermercado eram vias desconhecidas para ele. Tudo novidade! Nada passava em branco, todas as coisas observava atento.

Quem o via, dizia: "Quem é esse maluco maltrapilho correndo afoito com esse carrinho vazio?"

Pois é. Era mesmo um mendingo, morador de rua, maltrapilho ou algo parecido. Mas, tinha todo direito de estar ali, afinal de contas, era cidadão e com pleno gozo de pertencer a sociedade e seus comércios. Apenas seus trajes e odores não o faziam muito querido.

Continuava a andar com seu carrinho, ora parava para degustar os petiscos das promotoras de venda, dava opnião sobre que tipo de carne era melhor para um churrasco para uma família, assistia aos filmes naquelas telas finas de tv´s que se empilhavam até o teto, cheirava todos os sabonetes e perfumes, ficava curioso como os pães eram feitos na padaria, descobria que existia sardinha fora da lata e que os peixes realmente não cheiravam tão mal quanto no lixo.

Durante seus 40 minutos percorrendo os corredores, chamava a atenção de todos pelo seu sorriso e sempre comprimentando com um "oi" bem atencioso. Não só era educado mas também gracioso.

Eis que, percebeu algumas pessoas em seu encalso e o cerco estava se fechando. Estranhara que para onde ia, as mesmas pessoas o seguiam. Preocupado, pensava que mesmo dentro do supermercado não tinha segurança. O que eles queriam dele? Roubá-lo? Não havia nenhum guarda ou funcionário por perto, mas corajoso, e preocupado com todas as simpáticas pessoas que ali estavam, sentiu-se no dever de proteger o estabelecimento com bravura. Mas antes de pensar em alguma ação, foi rendido pelos homens suspeitos. Eram na verdade os seguranças do supermercado. Sem entender nada e já sendo levado para a saída. Perguntou: "Que foi, que fiz?" "Fica calmo que já incomodou demais por hoje, ou ta pensando que pode entrar aqui e ficar zanzando sem comprar nada?", disse deles segurança em seu braço.

"AAhhhh... é isso? Me larga que eu tenho grana sim. Tô a 3 meses juntando umas moedas, e hoje finalmente vou comprar minha cueca!" "Caramba", pensaram. Pois bem, lá foi o camarada. Escolheu sua cueca com muito cuidado, afinal, tem cuecas e cuecas da medida, cor e tamanho certo. Pegou a preciosa e foi pagar no caixa. "Ficou R$ 4,99 senhor, mas alguma coisa?", "Não", disse ele tirando várias moedas de 10, 25 e 50 centavos de diversos lugares de sua roupa, totalizando 5 reais. Pacote feito, produto pago... ele ali parado. "E aí, não vai embora?", disse um dos seguranças. Olhando para todos com um ar indignado bradou: "E meu troco?"

 

Esse texto faz parte do Livro: Contos Urbanos.
Autor: Henrique Braz B Rossi

 

Comentários

Data: 14-04-2009

De: Juliana Tiburtius

Assunto: me identifiquei

Adorei a história! Eu, um mês atrás, nas Europas, contando as moedas que me davam de troco, pq bala, como aqui no Brasil, não se compra mais nada...