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Henrique Braz Rossi
São Bernardo do Campo - SP - Brasil

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Paciência da Mãe

12-05-2010 14:22

Geralmente mãe de amigo, chamamos de “tia”, mas quando se trata da mãe de namorada temos que chamar pelo nome, até ter intimidades. Ai pode variar de Dona fulana, sogrinha e até sogrona, quando a relação estiver mais aberta.

Sabadão a noite, era tudo o que eu não queria, saída a “la trois”, eu, a namorada e a Dona Genoveva – Dona Geno, como era conhecida.. futura sogra. Destino: assistir o filme do Chico Xavier.

Tudo para Dona Geno era complicado, até para decidir qual roupa usar. Casaco, casaquinho, blazer, poluver, manta, casaco de tricô... não, blusão, não ainda um moleton. Oras, era uma saída para ir a um cinema, rotina simples nos dias de hoje. Mas não. Para ela era um evento importante e de certo todos iriam reparar nas roupas dela. Paciência, era a palavra martelando minha mente. Dúvida de levar ou não um agasalho. Leva!!! Disse já cansado de esperar na sala.

No carro, trânsito de sábado a noite era algo absurdo para Dona Geno. “Pelo visto todos esses carros estão indo para o mesmo lugar que o nosso”, resmungava no banco de trás.

A entrada do shopping já demonstrava um dia daqueles. Abarrotado, pois era sábado de dia das mães. Imagine a loucura. Mas, ao ver carros entrando e saindo, ela não se conteve: “Pelo visto ninguém ta achando vaga, ta todo mundo saindo”. “Acho que vai ser impossível achar vaga aqui, tem muita gente”, continuava. Mas com calma disse: “oras, não se preocupe. Estou com a senhora e posso parar em qualquer vaga de idoso”. Silêncio a “La trois”.

Shopping lotado, fomos direto comprar os ingressos. Era um deslumbre Dona Geno admirando as lojas e pessoas que por ela passavam sorridentes e alegres. “Muita gente né”, comentava. Era um mar revolto de sacolas e presentes. Algo incomum em dias normais.

No guichê veio a glória: idoso pagava meia. Pelo menos isso de bom no dia. Já que estava reclamando da enorme fila para entrar nas salas. Comprei 2 refrigerantes e 1 balde de pipoca para enaltecer o momento e ter alguns momentos de silêncio. Aquela sala fora habitada somente por velhinhos e velhinhas. Uma névoa branca pairava sobre as poltronas.

Dona Geno não curtia pipoca, seu interesse era ver o filme tão desejado. Afinal, não era qualquer programa que a tirasse de seu lar e plantas. Tinha que valer a pena.

Se fosse um filme da Funai, poderia dizer que era programa de índio, mas se tratando do Chico Xavier, era uma sessão especial. O som do mastigar das pipocas do cinema era produzido por mim, e assim quebrava um pouco o silêncio dos intervalos das chamadas antes do filme.

Que paz era sentir aquele momento familiar tão calmo. Eu, minha amada e sua mãe.

Fiquei imaginando se minha mãe ainda fosse viva, ela estaria ao nosso lado e formaríamos um quarteto bem engraçado. Ela também adorava o Chico, passear no shopping, ver pessoas, fazer coisas diferentes e rir da vida. Paciência da mãe e pelas mães. O que poderia reclamar nesse dia senão de não poder ter mais momentos como aquele?

Um dia incomum e de mãe. E sabe o que a Dona Genoveva ainda reclamou? Que tava com fome, porque comi toda pipoca sozinho. Acreditas?!?!

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