Tem dias que a televisão não passa nada. Ficamos apertando o controle remoto freneticamente até achar algo que nos agrade, nem sempre conseguimos. Parei para ver uma reportagem de pessoas que mudam de vida quando saem de sua terra natal e migram para grandes metrópoles em busca de qualidade de vida e enriquecimento. Em sua maioria é um ledo engano, mesmo com muita força de vontade as pessoas não entendem que não foram as únicas que pensaram nisso e encontram um mundo cruel e complexo. Como praticamente no Brasil a migração parte do norte e nordeste para a região sudeste, o eixo Rio e São Paulo, lembrei de um amigo que fez o caminho inverso.
Grande Marcelo, um típico playboy paulista com carro, conhecia o mundo, falava várias línguas, vida boa, baladas quase todos os dias, acordava tarde e sempre tinha algo diferente para fazer aos finais de semana. Apesar desse perfil burguês, era na verdade um jovem cheio de vida com bons amigos, um deles era eu mesmo. Fazíamos cursinho juntos para medicina, e éramos os rapazes do fundão. Alegres, sempre nos barzinhos e com muitos amigos ao lado. Mesmo com essas distrações todas, o estudo era primordial e passar era o foco. Estávamos em todos os grupos de estudo, laboratórios de redação, aulas de reforço e resolvendo aqueles exercícios infindáveis complementares das apostilas de apoio. Loucura total.
Feitas as provas do final do ano, Marcelo resolveu passar a passagem do ano no nordeste, em Recife. Realmente um lugar lindo e com pessoas muito calorosas.
Pois é... e foi isso que fez a mudança em sua vida. Já era ano novo quando Marcelo me liga em casa, dizendo que sua vida tomou outro rumo. Conhecera a cidade que sempre quis morar e uma pessoa incrível. Ia mudar-se para lá e começar uma nova vida. Acreditas nisso? Todos os planos de fazer medicina e seguir os passos da mãe iam ser trocados por uma praia e uma namorada. Eu mesmo não conseguia entender o fato.
Para mim aquilo era coisa de momento, paixão de praia, muito álcool na cabeça ou algum feitiço de mulher apaixonada. Assim passou os meses e Marcelo ficou por lá.
Um dia meu telefone toca, era Marcelo que estava em São Paulo para resolver as coisas para mudar de vez para lá me convidando para nos ver. Impressionante como tem gente com sorte na vida. Não ia sermais médico, mas dono de hotel de frente para o mar em um lugar fantástico. Casou com a namorada, que era herdeira de uma rede de hotéis e outras coisas, e estava responsável pelos hóspedes estrangeiros e se deu bem.
Nossas vidas mudam e para algumas pessoas realmente mudam para melhor.
Agora qual a probabilidade de um nordestino vir para São Paulo e casar com uma herdeira de uma rede de bancos? Olha que tem gente vai tentar. Boa sorte.
Esse texto faz parte do Livro: Amizades antigas, lembranças recentes.
Autor: Henrique Braz B Rossi