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Henrique Braz Rossi
São Bernardo do Campo - SP - Brasil

E-mail: henrique@octaki.com.br

João sem tempo

21-12-2009 17:10

O que são as amizades do tempo de escola que lembranças de época que nada sabíamos como seria nosso futuro? Pelo menos tínhamos intenção de ser alguém, alguma coisa para construir, fazer algo diferente ou igual de maneira incomum. Mesmo assim, jamais pensávamos como de fato seria.

Eu mesmo já pensei em ser médico pediatra ou ortopedista, veterinário, zootecnista, agrônomo, piloto de avião, fotógrafo de revista de turismo... e um monte de coisas sem noção... acabei começando a fazer medicina pelos meus pais, parei com a loucura, ingressei em administração em análise de sistemas – vai entender – e ao mesmo tempo fazia ilustração publicitária, que depois gostei e tranquei a faculdade para terminar computação gráfica. Acabei me formando em jornalismo e publicidade. Pois é... caminhos tortuosos porém definidos com o tempo.

As amizades nesses tempos são realmente uma bagagem, de conhecimento e aprendizagem para a vida. Certo dia, lembrei de um amigo que estudou comigo no primeiro colegial. Não lembro o nome dele, mas vou chamar aqui de João. Estudávamos em uma escola padrão, que só tinha o colegial e muitos professores bons. As aulas eram voltadas para ingressar na faculdade e tinha apoio de toda diretoria. Era bacana estudar lá, até porque eu participava do Grêmio Estudantil e vivia tocando violão e gaita. Voltando ao João, que era um amigo bem camarada e simples, se envolveu com as drogas da juventude e começou a faltar as aulas para fumar o danado. Sempre o via na praça ao lado entre outros desviados. Apesar dos conselhos e avisos da galera, João estava envolvido demais em sua nova “namorada”, a erva danada. Aquele ano o João sumiu da escola e de todos. Pois é, uma pena. Reencontrei-o dentro de um ônibus indo para a Av. Paulista. Poxa, nem acreditava naquela cena, ele ao meu lado depois de anos. Nos reconhecemos e aquela amizade da antiga foi o começo do papo e das nossas vidas. Apresentava uma boa aparência, de mochila nas costas, barba feita, bem vestido e com uma cara boa, mais velho lógico, mas com semblante maduro. Perguntou sobre o que eu fazia e dei um rápido retrospecto das minhas andanças até aquele momento. Empolgado só eu falava, até que entre risadas ele começou a falar. Incrivelmente procurava emprego, pois não tinha profissão definida porque ainda estava no primeiro colegial. Sua jornada de vida tinha dado uma pausa pelas drogas, mas naquele ano havia tomado forças e voltado para o caminho. Conversamos por longos minutos, até meu ponto chegar. Aquele abraço foi talvez o último que dei no João, atrasado alguns anos, mas sincero. Velho amigo que sempre tenho lembranças recentes desse episódio. Penso em como duas vidas aparentemente iguais podem tomar rumos diferentes.

 

Esse texto faz parte do Livro: Amizades antigas, lembranças recentes.
Autor: Henrique Braz B Rossi

 

Comentários

Data: 22-12-2009

De: karina francis urban

Assunto: o tempo

O interessante é também pensar no tempo. Cada pessoa tem o seu tempo de entendimento, de conquistas e de futuro. Bonito é reencontrar e sentir que o tempo não passou para a amizade, o respeito e a consideração. Parabéns pelo texto!